terça-feira, 25 de agosto de 2015

CABEÇA DINOSSAURO – TITÃS, 1986 (WM BRASIL).



“Bichos escrotos saiam dos esgotos, bichos escrotos venham enfeitar meu lar, meu jantar, meu nobre paladar!” Os versos de bichos escrotos revelavam que os Titãs seguiriam um novo caminho, uma nova estética, a mesma banda com outra cara, outra sonoridade, mais punk, com mais acidez, atitude e agressividade. “Cabeça Dinossauro”, o terceiro álbum da banda, mudou a história dos Titãs, marcou presença no rock nacional e se tornou um dos clássicos mais importantes da geração oitenta.
Apontado entre os 100 (cem) melhores discos da musica brasileira ficou na 19ª posição, em 1997, e ainda, a revista Bizz  o elegeu como sendo o melhor álbum de pop rock nacional. Vendeu 500.000 cópias recebendo a classificação de disco de platina.
O álbum nasceu de uma urgente necessidade de sobrevivência e afirmação da banda, sem este, os “Titãs”, que já foram um dia, “Os Titãs do Iê-iê-iê” (antes de entrarem no mercado fonográfico é claro, quando ainda se apresentavam em festivais estudantis), e que defendendo os hits dos dois primeiros discos: “Titãs” e “Televisão”, apareciam nos programas de auditório, tipo “Cassino do Chacrinha”, “Perdidos na Noite (Faustão na Band)”, “Clube do Bolinha”, etc, com um figurino exótico, coreografias para lá de esquisitas, visual new wave, e, musicas comerciais, que caiam logo no gosto de público, “Sonífera Ilha”, “Televisão”, “Toda Cor”, “insensível”, “Não vou me Adaptar” (nestes se encontram as versões originais de “hits” como “Go back”, “Marvin”, “ Para dizer Adeus” e “Querem o meu sangue” que só se tiveram o devido reconhecimento em regravações ao vivo e no Acústico MTV de 1997), teriam caído em um possível ostracismo.
A urgência em questão se dava pelo fato de aquele seria o terceiro disco da Banda e que com este se encerraria o contrato com a gravadora. Um possível fracasso poderia tirá-los de vez do mercado fonográfico ou fadá-los a ser apenas mais uma banda, sem pouca expressão, que só seria lembrada por ter feito parte daquele importante momento do rock nacional. Os Titãs já se destacavam pelas suas letras inteligentes e pela ousadia visual, mas faltava alguma coisa, a sonoridade da banda não se sobressaia naquele cenário, eles eram bons, mais tinha muita gente boa, fazendo som de altíssima qualidade. Tinham que encontrar um novo caminho. Havia uma saída, uma saída que pedia ao octeto paulista humildade e coragem para enfrentar novos desafios em termos musicais.
A saída era Liminha, um dos grandes produtores da época, conhecido por literalmente se apropriar do estilo e sonoridade das bandas com quem trabalhava, os Titãs criticavam o produtor pela sua massiva interferência no trabalho dos artistas, deixava nele a sua marca, e isso os incomodava.
Deixaram o ego de lado e buscaram a ajuda do consagrado produtor. Um passo para lá de acertado, se assim não o fosse, não nasceria o “Cabeça Dinossauro”, pelo menos não o que conhecemos, a presença do Liminha foi essencial não só para a concepção do disco como também para a nova e ainda atual sonoridade da banda. De uma só vez, Liminha fez do “Cabeça Dinossauro” um disco referencia, salvou os “Titãs” de um desaparecimento precoce e os transformou em uma das principais bandas do Rock Nacional, unindo-se aos “Paralamas” e a “Legião”, na santíssima trindade das grandes bandas do rock brasileiro.
Em se tratando da sonoridade, os titãs não perderam sua essência, mas a contribuição do Liminha os direcionou para outras possibilidades, as letras ficaram mais ácidas,  o som mais pesado, harmonia mais próxima das referencias do punk rock, que influenciaram todas a grandes bandas da época. Musica agressiva, letras inteligentes, misturas com o reggae e com funk e  outros ritmos, tudo com muita qualidade, deram uma nova cara  ao som dos titãs e foram fundamentais para que o “Cabeça Dinossauro”, tivesse seu lugar de honra entre os grandes monumentos da indústria fonográfica brasileira.
Outro fato que influenciou a busca de uma nova sonoridade para a banda, foi a prisão de dois de seus integrantes, ainda em 1985, Arnaldo Antunes e Tonny Belloto, responderam em liberdade por porte de heroína, pois eram réus primários.
A inspiração para o material gráfico veio da obra de um gênio renascentista, Leonardo da Vinci, um esboço intitulado “A expressão de um homem urrando” foi escolhido para capa e um outro desenho, do mesmo autor, “Cabeça grotesca”, ilustrou a contra capa.  Os traço de Da Vinci,  que era um excelente anatomista, imprimiu ao álbum a expressão antropológica e visceral do seu conteúdo.
Das treze canções do álbum, onze foram hits instantâneos, exceto as faixas "A face do destruidor” e “Dívidas”.
"Bichos Escrotos", que já fazia parte do repertório da banda desde 1982, só foi gravada neste terceiro álbum. Porém, a censura vetou sua execução radiofônica considerando o afrontoso verso "vão se foder". Ainda assim as rádios a executaram, ora com aquele repressivo “plim” ora a própria versão original, suportando a conseqüente multa.
A faixa titulo “Cabeça dinossauro” é marcada por improvisos percussivos do próprio Liminha, que segundo consta a informação no encarte do álbum foram inspirados em um ritual dos indos do Xingu. Nada mais visceral e antropológico, somado a poesia concretista de Arnaldo Antunes.
Alias o concretismo é a marca poética de Cabeça Dinossauro, estando presente em praticamente em todas as faixas, do próprio Arnaldo Antunes, que a carregou consigo para sua carreira solo e também literária, e, da estética dos Titãs em sua nova fase, notado em suas canções até hoje.
“O que” foi a  faixa que deu mais trabalho e levou mais tempo para ser gravada, teve a letra, a melodia e os arranjos alterados durante as gravações, a fusão com o funk  vitaminou o que seria uma musica convencional.
Apesar da adesão estética ao movimento punk, os Titãs e o “Cabeça Dinossauro”, escapam ao estereótipo e ao rotulo de punk. É um álbum de referencia, aponta novos caminhos, tanto para a banda como para o rock brasileiro, em efervescência na época. A estrutura poética e a avalanche sonora inaugurada no mesmo, influencia não só todos os trabalhos da banda que o sucederam como também, a outros músicos, compositores e bandas que bebem na fonte visceral, grotesca, antropológica,  concretista, urbana, verdadeira miscelânea de ritmos  e ideias e força brutal do “Cabeça Dinossauro”  que deu a “porrada” que faltava ao pop rock nacional, pelo menos no mercado fonográfico, pois no underground, a galera do movimento já fazia punk rock de raiz, e emergia do submundo com muito, muito barulho...

terça-feira, 28 de julho de 2015

DARUEIRA, OS GUARDIÕES DA SABEDORIA. NÃO FOI UM SONHO... E MUITO MENOS REALIDADE.




DARUEIRA, foi minha banda de garagem, não era propriamente uma garagem nosso local de ensaio, era só um quarto que sobrava em minha casa, e que servia de depósito de tudo, logo os bagulhos deram lugar aos instrumentos, e os ensaios musicais revestidos de uma misteriosa mística tomavam conta do lugar.
Wagner Jales a muito queria reunir seus dois amigos com os quais tinha mais afinidade musical, para uma espécie de experimentalismo sonoro. Foi assim, que em certa tarde levou o Ricardo Passos em minha casa e me apresentou. Já tinha falado para o Ricardo das minhas canções e de minhas letras, e eu já tinha ouvido sobre suas habilidades de instrumentista. Os três reunidos, meu violão e o de Wagner e as flautas improvisadas de bambu e cano de PVC, do Ricardo, foram suficientes para nossa primeira jam. 
Afinidades musicais nem tanto, havia uma certa congruência de influências musicais diversificadas: O Wagner, aos doze anos de idade já tocava MPB nos bares da Avenida Litorânea a revelia dos pais e do juiz da infância e juventude, ouvia basicamente cantorias, musica armorial, curtia o Lenine, o Almir Sater,o Luiz Gonzaga, o Xangai e o Elomar; o Ricardo veio de uma banda de Rock Industrial que atendia por um nome em inglês que se traduzia por “pele morta e fria”, ouvia música romântica clássica, música do mundo e coisas do gênero; Eu que vinha da ingênua banda "Os Brasas", formada por mim, meu irmão Gorge Castro (que atualmente se dedica a música cristã) e Glad Azevedo (cantor e compositor maranhense que agora está abrindo caminhos para a sua música no cenário nacional), gostava de MPB e Pop Rock, principalmente o nacional dos anos oitenta, e escrevia músicas com melodias simples e letras irreverentes, um pouco de Raul Seixas, Tom Zé e outros desconformes.
As tardes de sábado foram agendadas para os ensaios, que não eram propriamente ensaios, pois não haviam músicas para serem ensaiadas, tudo o que agente tinha eram alguns temas que íamos desenvolvendo a cada encontro.Não havia o sonho Pop star, aquela coisa de gravar CD, DVD, tocar na televisão, e vender camisetas, havia apenas a vontade de criar, de inventar, experimentar os sons, os ritmos, as idéias.Não se elaborava letras, não existiam músicas inteiras, escritas, elaboradas, eram simplesmente os temas que se desenvolviam livremente, se transformavam, se reproduziam. Um improviso sobre o próprio improviso, nada concreto.
Logo veio o meu contra-baixo semi-acústico, ou baixolão, para os que assim preferirem, o violino de Ricardo e a viola de Wagner, e, em alguns ensaios tiveram participações honrosas como a do Junior Gaiatto e o do Ivaldo.Não havia definição de estilo no som que fazíamos, tinha um pouco de progressivo, um pouco de blues, de jazz, e nada de tudo isso, tinha por assim dizer uma vivência de elementos sonoros nordestinos, referências nítidas no movimento armorial.Fazer Word Músic, era uma idéia, mas não um objetivo, como também não era objetivo rotular de qualquer coisa a música que produzíamos.
Certa tarde Wagner trouxe um CD que tão simplesmente reproduzia o som das marés, real, puro, sem nenhum elemento sintético. Tocávamos inspirados no barulho das ondas buscando usá-las como contratempo, logo o guitarra de Wagner reproduzia o som dos golfinhos, e baleia orca emitia seus sinais sonoros através da flauta que Ricardo tirou de algum encanamento. E assim, viajávamos no meio das ondas cercados de golfinhos e baleias assassinas.
O tempo, o recomeçar, a rotina, foi outro tema que o Wagner trouxe para experimentá-lo, fazíamos passagens sincopadas, teimosas, ganhavam força e velocidade cada vez que eram repetidas, foi assim, que certa vez a criatura se libertou, foi mais forte e dominou os criadores. Tocávamos freneticamente, e a música por si só criou vida, seguiu sozinha, mal podíamos acompanhá-la, a cada momento vinha uma nova possibilidade sonora, e nós a buscávamos instintivamente, sem racionalizar e nem questionar nada, a música respirava, estava presente, era uma força da natureza, gerando e sendo gerada, um ser místico se manifestando quase de forma sobrenatural. Nos entreolhamos e de imediato largamos os instrumentos que pareciam tocar sozinhos, nos rosto de cada uma havia uma expressão inequívoca: estávamos perplexos!
Ana e a Lua do compositor maranhense Betto Pereira, apareceu em nosso repertório, adaptada, com uma letra épica onde Ana se aventurava entre minotauros e outros seres oriundos da mitologia greco-romana.
Mais tarde fizemos experiências percussivas, usamos baldes plástico, que eram muito úteis com a constante falta d’água, a qual éramos submetidos lá em casa, e um pote que até virou abrigo de um gato assombrado(mas isso é outra estória).
No meio dessas experiências percussivas começamos a entonar uma palavra como elemento da música: DARUEIRA.... OH! DARUEIRA...., a palavra chapou de vez e foi assim que a nossa Jam escolheu o seu nome extraído de sua própria sonoridade.Buscamos no vernáculo Tupi-Guarani o significado para a palavra Darueira e ficamos sabendo que era “GUARDIÕES DA SABEDORIA”, batizamos assim a banda e o estranho som que fazíamos.Surgiu então a nossa primeira música com letra, um reggae chamado “O filho do Rei”, com uma letra filosoficamente rastafari, falávamos de Deus, de religião, negritude e preconceito, diferenças sociais e opressão, a letra se estendia por várias folhas de papel A4, e desapareceu mais tarde, quando a banda acabou, pois cada um de nós só lembrava de alguns trechos.
A Darueira acabou da mesma forma que todas as bandas de garagem acabam, alguns desentendimentos, a vida segue seu rumo, surge família, emprego, faculdade, viagens, novos objetivos e cada um busca o que é seu.Tudo o que foi dito aqui aconteceu, mais ou menos como foi dito, foi real e imaginário, não mudou o mundo (se bem que poderia) mas mudou nossas vidas, crescemos culturalmente e musicalmente de uma forma que não teria acontecido se tivesse sido diferente. Viajávamos como o nosso som, tão somente. Quase ia me esquecendo: ninguém fumou nada, viu


CATIVEIRO (O COCHE DE ANA)
 Composta pelos ex-integrantes da banda DARUEIRA, (Eu, Ricardo Passos e Wagner Jales), que quer dizer sem nenhuma pretensão, GUARDIÕES DA SABEDORIA, pouco depois dos três rapazes de São Luis resolverem dá um tempo em suas invenções musicais alternativas e partiram para projetos individuais.
Eu já tinha feito um esboço da letra (acredite, em plena noite de reveillon, sozinho com o violão no meio da rua, após a queima dos fogos) com uma melódia bem diferente.
Mais tarde, Ricardo apareceu querendo vê novidades do meu repertório, apresentei a nova cria e resolvemos refazê-la.
Ricardo compôs uma nova melodia, e juntos reformamos a letra, não sobrando quase nada da versão original, talvez só o primeiro verso.
A melodia passou por diversas alterações, Wagner se juntou a nós neste processo e na preparação de arranjos, e fez em conjunto com Ricardo a derradeira estrofe. 
a música CATIVEIRO ( O COCHE DA ANA) foge um pouco da concepção musical da lendária (muitos já ouviram falar, poucos tiveram a oportunidade de assistir a um ensaio) DARUEIRA, mesmo assim não deixa de ser uma representante legitima do modo de criação dos três autores.

Baixar aqui versão de Ricardo Passos e convidados:

http://www.overmundo.com.br/banco/cativeiro-o-coche-de-ana


quarta-feira, 28 de maio de 2014

BANDEIRA DE AÇO- PAPETE, 1978 ( DISCOS MARCUS PEREIRA).


Há tempos que intento escrever sobre o lendário “Bandeira de Aço”, hoje reconhecido como Bem Cultural Imaterial do Maranhão, porém sempre esbarrei em um obstáculo, que me tirou a coragem, mas, não a motivação: a dificuldade em encontrar fontes bibliográficas e as letras enigmáticas de César Teixeira, Josias Sobrinho e demais compositores que somaram esforços e talento para construir uma obra dessa magnitude. Confesso humildemente que apanhei feio e continuo apanhando até hoje.
Tive então uma conversa informal com o próprio César Teixeira, que entre outras coisas me revelou as entrelinhas e nuances contidas na letra de “A flor do mal”, a começar pelo titulo que é uma referencia ao livro “Les fleurs du mal” do Poeta francês Charles Baudelaire, lançado em 1857. Entendi que, uns dos trunfos que contribuíram para o “Bandeira de Aço” se tornasse um clássico capaz de vencer o próprio tempo, foi a inexatidão do significado de seus versos, qualquer tentativa de interpretá-los, que não venha dos próprios autores, leva a infinitas variáveis e possibilidades. Na intenção de preservar a integridade destas metáforas e por razões obvias, as quais não escondo, não me aprofundarei na interpretação dos versos contidos nessa obra.
Uma chave para compreender o “Bandeira de Aço” é inseri-lo em seu momento histórico. Deste o inicio dos anos setenta, o casarão n.º 42, da Rua Jansen Muller, no centro de São Luis, respira musica, teatro, poesia e todo tipo de  manifestação popular produzida no Maranhão, sede  do Laborarte – Laboratório e Expressões Artísticas, lá se iniciou o movimento que deu vida a MPM - Musica Popular Maranhense, termo que tem merecido a recusa de muitos, por ser considerado um “Rótulo”, e que por isso mesmo confina a mesma a uma espécie de gueto, que torna a nossa musica exótica ao resto do país.Defendo como melhor expressão “Musica Popular Brasileira produzida no Maranhão”.
Viviam-se os anos de chumbo da ditadura militar, repressão e censura vindas de cima, e esperança e revolta vindas de baixo, luta de classes e por liberdade, e, limitação total ao direito de expressão. Desse caldo, surgem duas necessidades, a de se expressar e ser entendido pelo povo, mas, não pelos censores do governo, daí o uso excessivo de metáforas, e, a de união, criar movimentos,  trabalhar juntos, somar as ideias  e falar em uma só voz...
A voz foi personificada através de Papete, musico maranhense com grande destaque na cena artística nacional, tendo trabalhado ao lado de estrelas como Toquinho e Rita Lee, e que mais tarde, foi eleito um dos três melhores percussionistas do mundo ao participar do Festival de Jazz de Montreux na Suíça.
Os compositores, Ronaldo Mota, Sérgio Habibe, Josias sobrinho e César Teixeira, estes dois últimos, são ícones da Musica Popular Brasileira produzida no Maranhão, o conjunto da obra de ambos, sintetiza, o que foi produzido de melhor, no período de maior efervescência da musica maranhense, no que diz respeito a  Musica Popular Brasileira e Regional.
O timbre é outro aspecto que faz de “Bandeira de Aço”, uma obra única e singular, arranjos melódicos de cordas e sopros, a percussão extraordinária do Papete, e um profundo mergulho na sonoridade das manifestações culturais do Maranhão, deram um tom magnífico ao álbum, referências profundas ao nosso consciente coletivo, que vibra ao som das matracas e dos pandeirões, recordando nossos momentos lúdicos  no arraias juninos e a herança musical de nossos ancestrais.
Versos enigmáticos, carregados de metáforas evasivas do tipo: “Depois de morrer na sombra da caranguejeira”, “A coruja piava no galho com a fome espetada no olho”; “Carne seca na janela, quando alguém olha pra ela pensa que lhe dão valor”, “Se ela soubesse da areia que eu como, ela nem perguntava, se ela soubesse do pó da sereia, ela nem se zangava, vento na cumeeira, nem dizia palavra...”; “que na subida da bandeira, pensou que tava no mundo e era fundo de quintal”, “Que é um boi de pasto carregando sela, fazendo vergonha pra ela e pra São João.” E ainda, “E quando os espíritos voltarem da guerra, encherei meus olhos com a mais suja terra e  a mula rumo a Portugal, eu e minha bananeira, duas bandeiras do mal”, letras de um lirismo impecável, reforçando o status  de referência poética, que rendeu a São Luis, o codinome de “Ilha do amor”, da poesia.

“Bandeira de aço” é sem dúvida, um monumento da musica e da cultura popular do Maranhão, representa em síntese, o que há de mais puro e essencial  no criar e no agir do povo maranhense, é um espelho de nossa alma coletiva,  um instrumento, uma forma clara, objetiva, rica e lúdica de mostrar a nossa cara para o Brasil e para o mundo expondo o que temos de melhor.

domingo, 23 de março de 2014

LEPO LEPO NO ENEM, VEJA SE VOCÊ ESTÁ PREPARADO:


01.Na canção “Lepo Lepo”, de Filipe Escandurras e Magno Santana, a narrativa em primeira pessoa, revela em tom lírico as angústias do protagonista ante a possibilidade da desilusão amorosa em virtude dos desejos materiais atribuídos a sua musa inspiradora influenciada pela sociedade de consumo, tal assertiva pode ser constatada nos versos:
a)Ah, eu já não sei o que fazer, duro pé-rapado com salário atrasado.
b)Ahh, eu não tenho mais para onde correr.
c)agora vou conversar com ela,será que ela vai me querer.
d) agora vou saber a verdade se é dinheiro ou amor (cumplicidade)
e) Nenhuma das alternativas acima.
02.De forma crítica e despertando sentimentos profundos de indignação perante as desigualdades sociais, o protagonista rebela-se contra a opressão social e as distorções criadas pelo capitalismo que agiram devastadoramente em sua existência, colocando este em uma situação de prostação, humilhação e submissão, pode ser obsevar tal condição em:
a)Rá rá rá rá rá rá rá o lepo lepo.
b) Fui despejado, o banco levou meu carro.
c) Ah, eu já não sei o que fazer, duro pé-rapado com salário atrasado.
d) Ahh, eu não tenho mais para onde correr.
e) Nenhuma das alternativas acima.
03.O protagonista reafirma sua condição humana de forma madura e sensata antes as mazelas sofridas e a possibilidade da perda amorosa, tal assertiva se revela nos versos:
a)Se ficar comigo é por que gosta do meu Rá rá rá rá rá rá rá o lepo lepo.
b)É tão gostoso quando eu Rá rá rá rá rá rá rá o lepo lepo.
c)Ah, eu já não sei o que fazer, duro pé-rapado.
d)Eu não tenho carro, não tenho teto.
e)Nenhuma das alternativas acima.
04.O protagonista expressa seu amor pela musa e seus sentimentos de estima, valorização e repeito pela mulher, em sentido amplo, através dos versos:
a)Se ficar comigo é por que gosta do meu Rá rá rá rá rá rá rá o lepo lepo.
b) Agora vou saber a verdade se é dinheiro ou amor (cumplicidade).
c) Agora vou conversar com ela,será que ela vai me querer.
d)Rá rá rá rá rá rá rá o lepo lepo.
e)Nenhuma das alternativas acima.
05. Que figura de linguagem podemos encontrar na expressão: Rá rá rá rá rá rá rá o lepo lepo., e em que sentido a mesma se encontra no texto:
a) Metáfora, por que releva profundidade dos sentimentos do protagonista em relação a sua amada e repeito mutuo entre os dois na relação afetiva.
b) Onomatopeia, pois descreve de forma original através de referências sonora a delicadeza com que o protagonista trata sua amada durante seus encontros amorosos.
c) Eufemismo, pois o protagonista reafirma com estes versos sua masculinidade.
d) Hipérbole, pois o protagonista expressa de forma exacerbada seus atributos e sua perfomace no ato sexual.
e) Nenhuma das alternativas acima.
06.Pelo lirismo, pela beleza e profundidade dos versos e pelo rigor literário, os autores da canção “ Lepo lepo”, Filipe Escandurras e Magno Santana podem ser comparados a que outros nomes da literatura luso-brasileira:
a)Fernando Pessoa e Vinicius de Moraes.
b)Mario Quintana e Carlos Drummond de Andrade.
c)Cecília Meireles e Mario Lago.
d)Naldo e Valesca Popozuda.
e)Michel Teló e Tiririca.
O texto é uma brincadeira, uma alegoria, da perda total das referências culturais e literais, tal como ocorre  no filme "Idiotocrácia". Por outro lado mostra a capacidade do professor, com talento e habilidade, de tirar 'leite das pedras", encontrar conteúdo onde não existe, mérito que é só dele, posto que é pouco provável que os autores da música tenham feito a mesma reflexão ao compô-la, considerando que "Conteúdo" não é ingrediente para a formula de mercado para qual a mesma é dirigida. Por outro lado faz com que o ouvinte reflita e identifique o conteúdo que subliminarmente lhe está sendo oferecido, a inversão dos valores que muitas vezes é imposta por este tipo de produção. Por sugestão, assista ao filme:  http://www.legiaodosherois.com.br/2013/entretenimento-um-dos-melhores-filmes-que-voce-nunca-viu-idiocracia.html

Texto: Penha de Castro.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

SÍTIO DO PICAPAU AMARELO – TRILHA SONORA ORIGINAL, 1977 (SOM LIVRE).



Desde que estreou em 1977, o "Sítio do Picapau Amarelo", baseado na obra de Monteiro Lobato, se tornou um dos marcos da teledramaturgia brasileira, além das estórias carregadas de nacionalismo, incentivo a leitura e ao aprimoramento cultural, trazia consigo o gosto da infância. Seu sucesso grandioso se deu também em razão da espetacularmente bem sucedida trilha sonora, o álbum de 1977 reuniu grandes nomes da musica popular brasileira, tanto nas composições como na interpretação das canções. Presenças marcantes como a de Gilberto Gil, que compôs e interpretou a canção tema do programa, como de composições de Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Dorival Caymmi, Geraldo Azevedo, Ivan Lins e com interpretações de MPB4, Lucinha Lins, Jards Macalé, João Bosco,Doces Bárbaros etc.
Arranjos bem elaborados transmitem com maestria o ambiente mágico e arcádico do Sítio da Dona Benta, no sentido de traduzir a vida no campo como  legitima expressão da verdadeira felicidade, em alguns casos chegam a ser psicodélicos, como por exemplo na canção  “Peixe” de Caetano Veloso, interpretada de forma alucinada pelos Doces Bárbaros.      
Inspirado no livro “Reinações de Narizinho”, Ivan Lins compôs a canção “Narizinho,” na qual Lucinha Lins canta as aventuras da neta de Dona Benta no “Reino das Águas Claras”, o timbre suave da interprete empresta um tom romântico à personagem de Monteiro Lobato.
Em “Arraial dos Tucanos”, através da voz altiva de Ronaldo Malta, Geraldo Azevedo e Carlos Fernando contornaram os censores do governo militar e embutiram na programação da Rede Globo, que era colaboradora do regime, uma canção de protesto com foco na questão agrária: “Até quando um homem que da terra vive e que da vida arranca o pão diário vai ter tua paz, aparente e pálida paz, aparentemente paz..”
Marlui Miranda e Jards Macalé entoam ao som dos tambores africanos  e de um belíssimo arranjo de cordas, toda a sabedoria dos pretos velhos, enquanto  pedem ajuda aos orixás e revelam os segredos do “Fundo Grande” em “Tio Barnabé.”
O Grupo Aquarius canta, através dos versos de Dory Caymmi e Paulo César Pinheiro as aventuras e fantasias do neto de Dona Benta, em “Pedrinho”, que “era o que queria ser por que era um sonhador...”
João Bosco e Aldir Blanc, em ritmo de samba, embalaram as peripécias do sábio subugo de milho em  “ Visconde de Sabugosa”, enquanto as artimanhas da boneca Emília são ambientas pela alegre canção carregada de lirismo de Sergio Ricardo: “Mais do que ser passarinho, anjo, boneca, gente, assombração/É ser que nem é Emília, campina, campo, espaço e amplidão/Mais do que ser sabida e ter segredos que fazer magia/ É ser que nem é Emília fonte, chama, sopro, ventania, por mais que o sol se esconde/ Cruzes se cravem no raiar do dia..”
As canções “Dona Benta” e “Tia  Anastácia”, respectivamente de Ivan Lins em parceria com Vitor Martins e,Dorival Caymmi, são calorosos acalantos  que reportam a afetividade dos avós e ainda, em tom de canção de ninar, revelam, no caso da ultima, os resquícios da escravatura muito presentes na obra de Monteiro Lobato.
Com gosto de infância são belas canções a se recordar, reviver com confessa nostalgia as férias no interior, as brincadeiras de rua, o desejo secreto de também ser um neto de Dona Benta e curtir  as mais fantásticas aventuras em um sítio que poderia ser igual a qualquer outro se não fosse a porta de entrada para um mundo de fantasias...

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

ALÉM DOS MUROS – LIGIA SAAVEDRA, 2010 (INDEPENDENTE).





O primeiro trabalho solo da cantora, compositora e excepcional poetisa Ligia Saavedra, sintetiza neste álbum a experiência e exuberância de seu talento, gravado após longos anos de silêncio da artista. Nele Lígia desfila a beleza, a vida e a cultura da região norte do país, e canta também os amores e a sabedoria de quem viveu intensamente cada momento.

Com um repertório bastante diversificado Lígia faz uma salada rítmica, que vai dos elementos musicais da cultura paraense, ou melhor, nortista, a sambas canção, e MPB POP.

Três coisas são surpreendentes neste álbum, a bela voz de Lígia, muito bem trabalhada e de uma ternura encantadora; sua expressiva interpretação carregada de emoção e sinceridade, e; as letras, de um lirismo entorpecedor, a poesia de Lígia Saavedra é imponente, de tirar o chapéu.

O disco contou com a participação de artistas conhecidos da cena cultural paraense, como Pedrinho Cavalleiro e Alcyr Guimarães, onde Lígia Saavedra goza de grande prestigio e tem o seu lugar de destaque.

A faixa título “Além dos muros”, da autoria de Pedrinho Cavalleiro e Jorge Andrande revela as intenções do álbum: “Tomara que essa espera passe calma na janela e frutifique grão e Hera além dos muros por sobre os rumos que o meu coração sonhar.”, aqui a interprete, de longa carreira, renasce em seu primeiro registro solo, fala da espera, que na verdade é uma conquista, de sonhos e esperança, de levar sua voz e seu talento além dos muros, na verdade a imensa muralha que a indústria cultural ostenta para barrar artistas que só podem contar  com o dom  extraordinário que Deus lhe deu.

“Tem dó”, é a faixa mais impressionante, principalmente pelo belo arranjo percussivo e de cordas, o violão expressivo e cheio de swing dá tons pop a bela canção e o timbre de voz de Alcyr Guimarães, que participa da faixa, nos remete a um grande nome da musica popular brasileira: Chico Buarque de Holanda. A canção traduz o cotidiano de Belém do Pará, faz referência a lugares e costumes da cidade, expressões linguísticas e grandes vultos da cultura paraense.

“Cristais de saudades” é a canção mais pessoal do álbum, deixemos que a própria Ligia fale sobre a mesma:“Quando perdi meu filho, em  janeiro do ano passado, já tinha o compromisso de gravar um CD, agora pronto chamado ‘Além dos Muros’. Após seu falecimento as pouquíssimas palavras que conseguir escrever falam de dor e de saudade com muito ressentimento e tristeza, mas em ‘Cristais de saudades’ acendo a esperança do reencontro e relembro aquele lindo sorriso que tantas vezes me fez feliz. ‘Cristais de Saudades’, agora uma linda música composta em parceria com Pedrinho Cavallero, está no CD “Além dos Muros”, eternizando o meu sentimento e a necessidade que sinto de gritar para o mundo: ‘Filho, jamais te esquecerei.’”

Também de Pedrinho Cavallero e Jorge Andrade, ‘Cabano’ faz referencia a cabanagem, revolta popular, no período do Brasil Imperial, ocorrida na Província de Grão-Pará.

Em “Tuas mãos”, canção em parceria com Marcia Yamada e Pedrinho Cavallero, acompanhada por um envolvente solo de saxofone, Ligia esbanja, com bom gosto e longe da intenção de ser vulgar, sensualidade e erotismo: “Tuas mãos é o que me fazem sentir, estremeço só de pensar, é como desde o início tivesse um mapa do meu corpo a te guiar.”

Na faixa “Me permito”, Lígia faz uma ode ao livre arbítrio, uma canção de desprendimento, para aqueles que vivem a vida intensamente, e, não perde a oportunidade de fazer uma declaração de amor à própria existência.

Mais lirismo, romantismo e a memória afetiva popular desfilam nas demais faixas do disco, fazendo deste álbum uma obra prima que mereceu inclusive a atenção da crítica internacional de Wilbert Sostre da JazzRewiews.

Um disco de estreia, mas marcado pela experiência de uma veterana, talentosa e destemida, que soube impor o seu valor artístico e conquistar seu lugar ao sol, junto aos grandes nomes da musica do norte do Brasil.



sábado, 10 de agosto de 2013

“PAI” – FÁBIO JUNIOR, 1978.



No episódio “Toma que o filho é teu”, da série “Ciranda Cirandinha”, o ator Fábio Junior, que interpretava o personagem “Hélio”, canta pela primeira vez na televisão “Pai”, sua canção mais emblemática e que abriria as portas para sua carreira musical, com um violão e um caderno aberto a sua frente, como se estivesse acabado de compô-la, e emociona o público.
Em 1979, inspirada por esta canção, a autora de novelas Janete Clair, escreveu sua nova trama “Pai Herói” e a escolheu, para tema de abertura.
Embora boatos dessem conta de que “Pai” surgiu de uma suposta relação conflituosa entre o artista e seu genitor, Fabio Junior sempre afirmou o contrário, que a canção foi composta em um momento de grande inspiração, e fala do amor e do respeito que tinha pelo seu pai.
O pai de Fabio Junior, que se chamava Antônio, era taxista, possuía uma banca de revista onde os filhos trabalhavam. Na novela “Antônio Alves, o Taxista”, o nome do protagonista foi dado em sua homenagem e o próprio Fábio, o interpretou.
A canção em tom intimista, é repleta de amor filial, não seria de fato uma reconciliação, parece mais robustecida pelas palavras que nunca foram ditas, pelos sentimentos muitas vezes não demonstrados. Deixa a sensação do nó na garganta, e o desejo de se recuperar o tempo perdido, de amar enquanto ainda há tempo para amar.
O reconhecimento pelo amor recebido e pela experiência transmitida, e a intenção de passar segurança, de dizer que o dever de pai está cumprido, também são sentidos nos versos da canção, de uma forma pessoal e autentica.
A canção traduz sentimentos de saudade, mas não de um ente querido que se foi (o pai do Fábio Junior ainda era vivo quando este a compôs) e sim, dos momentos vividos, bons ou ruins, pois muitas vezes, numa boa relação familiar,não dá para fazer diferença.
É uma canção sincera, linda e bastante emotiva. Para ouvir com o coração voltado para aquele, mesmo em alguns casos achamos que não mereça, tem o nosso amor incondicional.